Usina Piracicaba: dispensas preocupam sindicalistas
Publicado: 22 Janeiro, 2007 - 08h00
Escrito por: CNM CUT
Considerado o negócio mais lucrativo dos últimos anos no mundo, a fusão da Belgo Arcelor com a indiana Mittal, que formou, há dois meses, o maior grupo de siderurgia do planeta, num investimento bilionário, começa a preocupar os sindicatos dos metalúrgicos da Bélgica e de Piracicaba. Tensos com a possibilidade de dispensas na usina Piracicaba, que concentra 450 empregos diretos, além da demissão em massa em outras unidades brasileiras e até em outras nações, o vereador e presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Piracicaba, José Luiz Ribeiro, e um grupo de oito sindicalistas belgas se reuniram ontem (17), no Restaurante Mirante, e formalizaram a criação do Fórum Mundial Arcelor-Mittal. A luta, que prossegue hoje (18), com o encontro dos sindicalistas com a direção da Belgo, pela manhã, é pela garantia das vagas e pela manutenção da estrutura da empresa, sem fechamento de fábricas. Em todo o Brasil, houve 30 demissões desde que a fusão foi confirmada.
'Os belgas, e também os brasileiros, querem saber o que de fato ocorrerá a partir de agora', afirma Ribeiro. Na Bélgica, são 15 mil pessoas e em toda a Europa, há 92 mil trabalhadores contratados, que dependem da Arcelor.
De acordo com o sindicalista, é possível que haja alterações inclusive no sistema de produção. 'Por exemplo, em Piracicaba, a Belgo fabrica aços curtos e longos. Será que essas matrizes poderiam ser alteradas?', indaga. Nos últimos cinco anos, a Belgo desembolsou mais de 100 milhões de dólares para incrementar a usina local. Houve um salto de produção, nesse período, de 23 mil toneladas de aço fabricadas por mês, para 100t do produto.
Apesar da cautela, José Luiz Ribeiro disse ontem que não acredita na extinção da companhia em Piracicaba. 'Havendo dispensas, o que costuma ser habitual em tempos de fusão, as baixas poderão ocorrer em maior escala nos setores administrativo e de gerência. A produção não deve ser abalada, mas é necessário ficar atento ao que pode vir por aí. É preciso agir antes', observa.
Por outro lado, segundo Ribeiro, em Juiz de Fora (MG), a preocupação quanto a possíveis demissões é geral. O Fórum Mundial formalizado em Piracicaba contaria, além da participação de sindicalistas e dos próprios trabalhadores, com a adesão dos governos federal, estadual e municipal, dependendo dos desdobramentos do caso, cuja solução deve ser anunciada ainda no primeiro semestre deste ano.
O temor é mais evidente porque, segundo o parlamentar, a Arcelor tem origem socialista e a indiana Mittal segue outra metodologia de trabalho. 'Devem haver alterações especialmente nas relações sociais mantidas pelas companhias. Queremos saber que os projetos que envolvem a comunidade, liderados pela Belgo, serão desfigurados ou mantidos. Não queremos que aconteça o mesmo que houve com a Johnson Control, em Piracicaba, que demitiu 300 pessoas', ressalta.
Para discutir a questão de maneira específica, foram agendadas reuniões para estas segunda e terça-feiras (22 e 23), em São Paulo. Na oportunidade, diretores da Belgo conversarão com executivos da Mittal sobre Recursos Humanos. Recentemente, o presidente da companhia que se fundiu à Arcelor esteve no Brasil e se encontrou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Outra realidade
À Gazeta, o indiano naturalizado sueco que reside em São Paulo (SP), John Fernandes, consultor do Sindicato da União Européia no Brasil, revela que há diferenças no trabalho dos grupos mantidos por sindicalistas brasileiros e estrangeiros. 'O Brasil continua seguindo a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), implementada há várias décadas. Enquanto aparecemos em 72º no ranking de desenvolvimento, a Suécia, por exemplo, surge em primeiro, justamente por conta da competitividade', frisa.
Na Europa, os sindicatos estão mais adaptados ao mercado e se voltam ao segmento do intelecto. Lá, as entidades comandam a produção. Ainda assim, a integração é total. José Luiz, por exemplo, tem essa visão internacional muito evidente e isso ajuda. Ele tem cabeça de europeu', assinala.
Arcelor compra a Manetoni
A aquisição da empresa piracicabana Manetoni, pelo Grupo Arcelor, foi confirmada ontem por José Luiz Ribeiro. A transação, segundo o vereador e sindicalista, tem por objetivo dar ainda mais visibilidade aos produtos Belgo. 'A Manetoni já funcionava como uma revenda da companhia', frisa. Paralelamente à compra, o sindicalista anunciou o estabelecimento, ainda neste ano, em Piracicaba, de uma empresa de pequeno porte, ligada ao segmento, que deve gerar pelo menos 50 novos empregos na cidade.
Fonte: Gazeta de Piracicaba