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Artigo

Consciência Negra: avançamos, mas ainda há muito o que se fazer

Publicado: 20 Novembro, 2023 - 00h00 | Última modificação: 20 Novembro, 2023 - 15h16

Novembro é um mês dedicado à reflexão e luta contra o impacto do racismo nas condições de vida e de trabalho da população negra brasileira. Neste 20 novembro, dia da Consciência Negra, percebemos que avançamos muito, mas ainda há muito por se fazer para dar visibilidade à população que enfrenta há séculos o racismo e o preconceito.

Esta realidade tem impedido a população negra de ter acesso às condições materiais, sociais e políticas que estruturam o seu cotidiano devido à falta de oportunidades para os homens e as mulheres negras em conseguir emprego, com bons salários, acesso a educação e saúde de qualidade e condições dignas de moradia, entre outros.

Quando olhamos para o mundo do trabalho percebemos claramente os impactos do racismo estrutural no Brasil. Segundo estudo publicado pelo Dieese sobre o mercado de trabalho e população negra, fica claro o quanto ainda há um longo caminho a ser trilhado pois, embora representem 56,1% da população em idade de trabalhar, os negros ocupavam apenas 33,7% dos cargos de direção e gerência. Ou seja, um em cada 48 trabalhadores negros ocupa função de gerência, enquanto entre os homens não negros, a proporção é de um para 18 trabalhadores.

Entre os desocupados, 65,1% eram negros. A taxa de desocupação das mulheres negras é de 11,7% - mesmo percentual de um dos piores momentos enfrentados pelas pessoas não negras, no caso, a pandemia. A taxa de desocupação dos não negros está em 6,3% no 2º trimestre de 2023.

Quase metade (46%) dos negros estava em trabalhos desprotegidos. Entre os não negros, essa proporção era de 34%. Uma em cada seis mulheres negras ocupadas (16%) trabalha como empregada doméstica. Os negros ganhavam 39,2% a menos do que os não negros, em média. Em todas as posições na ocupação, o rendimento médio dos negros é menor do que a média da população.

Sabemos que o mercado de trabalho ainda é espaço de reprodução da desigualdade racial. Tanto a inserção quanto às possibilidades de ascensão são desiguais para a população preta e parda. E as mulheres negras acumulam as desigualdades não só de raça, mas também de gênero.

Esta situação mostra que há uma divisão racial do trabalho como um ordenamento do racismo estrutural, cuja finalidade é estabelecer as condições necessárias para a exclusão e marginalização das(os) trabalhadoras(res) negras(os) do mercado de trabalho assalariado, assim como determinar as condições materiais para a população negra ser inserida de forma precária em postos de trabalho informais ou com salários insuficientes para a reprodução da vida.

Precisamos seguir firmes na luta contra o racismo, que é decorrente da estrutura social construída no país e que teima em se apresentar como um modo normal da constituição das relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares. Lutar para que o racismo seja desconstruído e que as condições materiais, sociais, econômicas e políticas sejam garantidas, é fundamental a busca de solucionar o problema estrutural no País.

Neste sentido, realizaremos no dia 29/11, a partir das 9h, evento para debater sobre a divisão racial do trabalho e suas implicações para a garantia das condições materiais, sociais e políticas que estruturam o cotidiano das(os) trabalhadoras(es) negras(os) no Brasil. Não fique fora desta e venha debater com a gente caminhos para um mundo menos desigual.

Christiane Aparecida dos Santos
Secretária de Igualdade Racial da CNM/CUT