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Aumento de juros do BC vai na contramão da economia, alerta presidente da CNM/CUT

Economista da subseção Dieese da entidade afirma que alta da Selic só interessa ao rentismo e tira dinheiro de investimento produtivo

Publicado: 25 Setembro, 2024 - 11h08 | Última modificação: 25 Setembro, 2024 - 17h19

Escrito por: Redação CNM/CUT*

Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
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Pela primeira vez em dois anos, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aumentou a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, em anúncio no dia 18 de setembro. Assim, a taxa básica de juros subiu de 10,50% para 10,75% ao ano.

Nesta terça-feira (24) o Banco Central liberou a ata da reunião do Copom, dando mais argumentos para o aumento da Selic. No documento, a entidade monetária classificou a política fiscal do governo como “expansionista”, quer dizer, que há um exagero nos gastos públicos para estímulo da economia, e ressaltou que existe um “hiato do produto positivo” (economia estaria superaquecida, indo além da sua capacidade real), o que demanda uma política monetária mais contracionista, justificando o aumento dos juros, no sentido de controlar uma inflação futura.

Para o presidente da CNM/CUT, Loricardo de Oliveira, ao contrário da avaliação do BC, o aumento não se justifica por causa do bom momento da economia brasileira, que vem registrando ótimos números, principalmente no que diz respeito ao número de empregos no país, além da inflação se mostrar controlada nos últimos meses.

“O aumento de juros inibe as possibilidades de desenvolvimento e investimento que o governo prevê, como o Nova Indústria Brasil, por exemplo. Sem contar que fica a impressão de que o Banco Central não pode ver o emprego crescer no país, o que ele quer é desemprego, essa parece ser a tarefa do atual presidente do Banco Central.  Nós tivemos no último mês deflação, o dólar no último período caiu, quer dizer, qual é o motivo que leva os caras a fazer isso? Com certeza é tentar desestabilizar a economia brasileira e levar o país para um caminho que não é o caminho do desenvolvimento”, reclamou o sindicalista.

Histórico

A última alta dos juros no país ocorreu em agosto de 2022, quando a taxa subiu de 13,25% para 13,75% ao ano. Após passar um ano nesse nível, a taxa teve seis cortes de 0,5 ponto e um corte de 0,25 ponto, entre agosto do ano passado e maio deste ano. Nas reuniões de junho e julho, o Copom decidiu manter a taxa em 10,5% ao ano.

Neste momento, o Brasil é o segundo país com a maior taxa de juros reais do mundo, segundo levantamento feito pelo site MoneYou. Antes do período de cortes seguidos, o país ficou um bom tempo na liderança deste ranking.

Durante o 11º Congresso da CNM/CUT, em maio do ano passado, os metalúrgicos e metalúrgicas da CUT denunciaram a política nociva de juros do BC ao país e pediram o impeachment do presidente da instituição, Roberto Campos Neto. O movimento sindical foi para as ruas exigir a queda de Campos Neto e a mudança de rumo na política de juros, mobilização que segue presente enquanto o mercado financeiro dita os rumos da Selic.

“Campos Neto sairá do cargo agora no final do ano, mas é preciso que o próximo presidente do Banco Central compreenda que o Brasil precisa se desenvolver com trabalho, com renda, com emprego, com desenvolvimento da indústria, com desenvolvimento e crescimento do PIB. A gente quer o Brasil um país onde a renda seja distribuída e não concentrada, como está sendo feita no setor financeiro”, alertou Loricardo.

Rentismo

Segundo a economista e técnica da subseção Dieese da CNM/CUT, Renata Filgueiras, o atual bom momento da economia brasileira traz elementos suficientes para defender a manutenção da taxa Selic ou até mesmo sua redução. Ela aponta também que existem interesses diversos de olho nas mudanças da taxa básica de juros no país.

"Há um componente fundamental nesse debate que é a composição da dívida pública brasileira. Os detentores da dívida pública são as instituições financeiras, fundos de investimento, planos de previdência, pessoas não-residentes no país, governo e seguradoras. Ou seja, não são investidores, mas rentistas. Significa que eles escolhem aplicar seu dinheiro em ativos financeiros sem correr riscos. A alta da Selic beneficia estes grupos. Isto significa que, se a curva de juros da economia for mais atrativa para aplicações financeiras, o investimento produtivo fica relegado a segundo plano ou pode não se efetivar. É importante registrar que a dívida pública é um passivo para o Estado e um ativo para o setor privado. O aumento da Selic significa aumento dos gastos do Governo Federal com juros dos títulos públicos do Tesouro Nacional", explica Renata.

A economista ressalta que o Banco Central tem como objetivo estrutural assegurar a estabilidade de preços no país, mas também tem que zelar pela estabilidade e pela eficiência do sistema financeiro, suavizando as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego. "O BC precisa levar em consideração a necessidade de equilibrar o nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego. Taxas de juros nos atuais patamares não permitem atingir esses objetivos", adverte.

* Com informações da Agência Brasil